quarta-feira, 30 de setembro de 2015

EM ESCOLA DE SAMBA ANTIGUIDADE É POSTO. OU NÃO???

Antiguidade sempre foi posto em escola de samba. O tempo somado à contribuição torna alguns referência histórica na agremiação. O respeito que devotamos às velhas guardas vem daí. O episódio ocorrido com Nilcemar Nogueira no sábado passado na Mangueira (barrada na entrada da quadra pelos seguranças) e por ela mesma divulgado nas redes sociais, foi um incentivo a escrever sobre algumas questões aparentemente não observadas ou desprezadas nos (malditos) testes para passistas.

Testes e provas já são considerados hoje, formas arcaicas e ultrapassadas de avaliação, mas praticamente todas as escolas de samba se valem desse meio para escolher seus passistas. Passistas eram escolhidos durante os ensaios na quadra da escola por um coordenador, que pouca ingerência tinha na parte técnica do passista, ou por diretores da escola. Observava-se samba no pé, simpatia, e freqüência. Essa observação não era feita num dia, muito menos em 2 minutos, mas através de um processo que podia se estender por algumas semanas ou meses.

É possível uma avaliação minimamente justa numa ala tão heterogênea? A dança é uma forma de arte e as avaliações sempre serão eivadas de subjetividade por parte de quem julga (o gosto pessoal de cada um). Há escolas que conseguiram homogeneizar o grupo de passistas retirando, compulsoriamente, todos os adultos, mantendo apenas crianças e adolescentes recém chegados na escola.

Outro aspecto que deve ser levado em conta é o da REPRESENTATIVIDADE. Ultimamente, os olhos se voltaram quase que exclusivamente para a técnica (a forma como cada movimento é realizado) e plasticidade (o que se considera belo, apresentável, em corpo e figurino) esquecendo o que alguns sambistas/passistas representam simbolicamente para a agremiação. Olhávamos para Gargalhada e víamos Mangueira; olhávamos para Vitamina e víamos Salgueiro; olhávamos para Edinho e víamos Beija Flor de Nilópolis!

Sinceramente, não entendo como se pode julgar todo um repertório de representatividades que compõe o ser passista, num teste. Há quem considere uma honraria um passista veterano participar de um teste. Tenho minhas dúvidas. Será que passistas que estão na escola há 10, 20, 30, 40 anos, que quando mais jovens, contribuíram com importantes premiações, como o Estandarte de Ouro, por exemplo, sentem-se “honrados” em serem testados ao lado de passistas que chegaram ontem na escola? É possível desaprender a sambar? O menos experiente julgando o mais experiente? O discípulo julgando o mestre? O poste mijando no cachorro?

Muito bacana a escola permitir a permanência dos passistas veteranos, alguns já idosos na ala, mas para que esse direito se efetive, é necessário oferecer-lhe as condições necessárias (alguns privilégios, sim!) para que ele possa lá estar, encantando as pessoas, pois são reconhecidos, criaram ao longo do tempo, uma identidade na escola; e transmitindo aos mais jovens saberes que vão além da técnica.

No caso das mulheres a situação é ainda mais complicada, pois os figurinos são únicos e pensados para adolescentes, vestindo inadequadamente mulheres mais velhas.

“A regra é pra todos! Não importa quanto tempo vc tem de escola”. Não no samba. Esse pensamento que pretende promover igualdade, na verdade, desconsidera diferenças relevantes entre pessoas que fazem parte de uma cultura que se pauta na ancestralidade e respeito aos mais velhos, por isso reverenciamos mangueirenses como Seu Nelson Sargento, Tia Suluca, Mestre Tantinho; e pela mesma razão devemos prestigiar nossos passistas veteranos.

Grande exemplo nos dá a Velha Guarda da Bateria, quem sabe um caminho para os passistas mais antigos?! Não tenho a resposta para todas as perguntas nem a solução para todos os problemas. Vivemos em tempos de apresentações, figurinos, coreografias, calendários rígidos, tempos de espetáculo. Contudo, acho que o papel que o passista exerce na escola de samba é de suma importância e por isso merece todo respeito e consideração. Respeitem quem pode chegar onde a gente chegou!


Na foto, Indio da Mangueira (Estandarte de Ouro -1984) e Celso (Estandarte de Ouro 1992), no desfile de 2015.

Nilcemar Nogueira é neta de Dona Zica e Cartola, Diretora do Museu do Carnaval e Doutora em Psicologia Social.

domingo, 5 de julho de 2015

SAMBISTA E ACADÊMICA, COM MUITA HONRA!

Transcrevo aqui uma rápida conversa narrada pelo Professor Salo de Carvalho, (Criminologista, Professor da UFRJ, Pesquisador e escritor), entre ele e um senhor desconhecido no Aeroporto.

- Para acabar com a violência, só prendendo esses menores, não?.
- Qual a sua profissão?
- Médico.
- O senhor não fica indignado quando opinam sobre medicina sem nenhum conhecimento?
- Sim.
- Qual a sua especialidade?
- Criminologia. Respondo e retomo a minha leitura.

Observo e me chateio com opiniões de pessoas que entendem pouco ou nada do riscado, cujo interesse é litigar em causa própria, interesses classistas. Pra esses, sinceramente, torço sim, pelo tiro no pé! (inclusive literalmente).

Tenho visto também, e com muita tristeza, ataques irônicos a acadêmicos e intelectuais por pessoas que muitas das vezes, quando lhes convêm, estão absolutamente confortáveis neste lugar, com seus discursos desconstrutivistas, corrompendo, maculando e subtraindo bens culturais imateriais daqueles que no fundo, eles odeiam e adorariam ver banidos na face da Terra.

Essas pessoas as quais me refiro aqui, preocupam-se apenas em seus próprios interesses e vão adequando seus discursos de acordo com a conveniência; a mim não enganam.

Antes que venham as acusações espúrias, vou logo avisando que não sou, como muitos pensam, jornalista, socióloga ou antropóloga; sou advogada, atuante, especialista em Direito e Processo Penal, Direito Internacional com ênfase em Direitos Humanos, o que me autoriza a comentar, ao menos timidamente, sobre o assunto.

Ué, mas vc pesquisa sobre escolas de samba??? Sim. Sou SAMBISTA e fui PASSISTA por aproximadamente 10 anos pelas duas escolas de samba mais antigas do Rio de Janeiro (Portela e Mangueira) e com muito esforço e resistência, tento levar o Samba para dentro da Universidade, pq algumas interlocuções ainda não são facilmente vislumbradas; mas cultura e direito não são dissonantes. Aliás, o Direito a Cultura é constitucional (art. 215 da CF).

Há de se ter o mínimo de coerência política: não dá pra fazer a populista no SAMBA e a REACIONÁRIA fora dele.

sábado, 16 de maio de 2015

O MACHO RECALCADO

Fico perplexa com a quantidade de homens jovens já tão bem iniciados no machismo em suas mais "sofisticadas" expressões. Numa rede social o menino escreve: "Fui ao Mc Donald e quem me atendeu foi uma garota que eu era apaixonado na segunda série. #DEUS É JUSTO#, acompanhado de uma foto onde exibe seu lanche "vip" e dois emotions: um coração partido e um soco. Na concepção machista, um homem é tudo de melhor que uma mulher pode ter na vida, e se por ventura ela o despreza, é uma idiota e há de se arrepender pro resto dos seus dias! Outra questão doída nesse post é a inversão de valores com o objetivo único de humilhar a mulher. O trabalho, que deveria honrá-la, é apropriado pelo macho para humilhá-la. A ferida narcísica permanece aberta depois de mais de 10 anos, já que quando ele foi por ela ignorado, ambos eram crianças, e só Deus e sua justiça para confortá-lo. Tão novinho, já tão recalcado. Combater o machismo a tempo e fora de tempo, em casa, na rua, no trabalho, na faculdade, educar os filhos, filhas, noras, netos, companheiros. Essa luta é nossa.

"SOFRER NA MÃO DE HOMEM"

Hj li um post de um jovem que dizia mais ou menos o seguinte: "Tem mulher que já sofreu tanto na mão de homem, que quando é bem tratada acha que está sendo enganada". Algumas mulheres se identificaram de imediato. Fiquei pensando: Que tipo de sofrimento elas se referem (agressões físicas, verbais?); pq esses sofrimentos se perpetuaram tanto e repetidas vezes em suas vidas a ponto de traumatizá-las? E pq elas estavam "na mão" desses homens, objetificadas? Achei curioso também, tal constatação vir de um homem tão jovem. Quantas mulheres - provavelmente jovens como ele - já acumulam esse "sofrer na mão de homem"? Fiquei pensando, cá com meus botões, se já havia "sofrido na mão de homem" e a resposta foi SIM! Contudo, não sofri muito, pq logo que era maltratada, pulava fora, afinal estava no relacionamento para ser feliz e bem tratada. Quem me ensinou sobre isso foi minha mãe, que era uma feminista e nem sabia. Lutou para se livrar do domínio do pai e dos irmãos. Não queria se casar nem ter filhos, mas casou e teve 4. Depois já casada, travou uma luta constante para ter direitos, como por exemplo, usar calça cumprida, tomar anticoncepcional, fazer aborto, ter a religião que quisesse, e não ser ameaçada ou ofendida sem revidar. Há muito que se falar, se discutir e se fazer. A palavra da hora é EMPODERAMENTO, então, empoderem-se amigas e chega desse papinho de "sofrer na mão de homem".

terça-feira, 17 de março de 2015

Passistas da Imperatriz Leopoldinense: vale o que foi visto!

Passista é um componente de escola de samba que vive entre o glamour e o assombro. Esforços têm sido empreendidos, inclusive por não passistas, para que o grupo tenha um pouco mais de estabilidade e valor dentro das agremiações carnavalescas. Conclui, após muito papo com diversos passistas de diferentes escolas de samba, que o passista se sente valorizado quando é visto, quando tem a oportunidade de mostrar o seu samba. De figuras individuais, passando por pequenos grupos, até os atuais com aproximadamente 100 componentes, com figurinos totalmente adequados ao enredo, a ala de passistas pode facilmente ser confundida com uma ala comum, sem especificidade técnica. Nesse sentido, as premiações são a prova de que o passista foi visto. Não só foi visto como teve seu talento reconhecido. O prêmio é uma recompensa, um “parabéns” por algo que se fez e se fez muito bem, com excelência. Entretanto, pode sim, haver reconhecimento fora das premiações: o reconhecimento pelos pares, pelo público e pelos jurados dos desfiles das escolas de samba. Foi o que aconteceu com a ala de passistas do GRES Imperatriz Leopoldinense, que teve sua atuação destacada positivamente pela jurada Sonia Gallo, do quesito evolução. A ala, dirigida pelo já experiente passista Magno, andava meio acanhada e ganhou fôlego novo no último ano com a chegada da coordenadora Bherna Francy, revelando grandes talentos do samba no pé. *Bherna Francy começou a carreira de passista na infância, no GRES Beija Flor de Nilópolis, ao lado do seu pai, o lendário passistas Moisés. Mais tarde, ingressou na ala do GRES União da Ilha do Governador. Após longo tempo afastada, retornou no GRESEP de Mangueira e em 2014 assumiu a coordenação da ala de passistas do GRES Imperatriz Leopoldinense.