3ª SEMINÁRIO INTERDISCPLINAR EM SOCIOLOGIA E DIREITO
PPGSD/UFF – 2013
"A Mobilização
Social e suas Implicações na Alteração do Cenário Nacional: (Re) Construção de
Paradigmas e Fortalecimento da Cidadania"
INSTITUTO DE CULTURA E CIDADANIA PRIMEIRO PASSO: DE
MOVIMENTO CULTURAL A MOVIMENTO SOCIAL
Silvia Valeria Borges Duarte – mestranda do
PPGSD/UFF
Hélio Ricardo Rainho – jornalista, ator e
pesquisador.
RESUMO
O Instituto de Cultura e Cidadania Primeiro Passo
é um projeto social, instalado em Madureira, bairro do subúrbio do Rio de
Janeiro, que através da Dança do Samba, objetiva promover a inclusão social, o
acesso à cidadania de famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica,
ao mesmo tempo em que reforça a cultura do samba, através da formação de
passistas, ritmistas e cantores. Pretende minimizar as situações hostis que
afetam os jovens das comunidades locais ao mesmo tempo em que estimula o debate
acerca de suas identidades sociais, problematizando temas do cotidiano por meio
das diferentes atividades que desenvolvem envolvendo a música, a dança e o
teatro. A atividade principal do projeto é o ensino da dança do samba e da
transmissão de informações sobre a história do samba e suas representações para
a cultura brasileira. Contudo nos últimos anos ocorreram diversas ramificações
do projeto inicial e hoje, além do Primeiro Passo, ligado á dança, há também a
Cia do Samba (teatro), O Seminário Arte do Samba (debates promovido anualmente
no dia do passista em prol do segmento), O Bloco Carnavalesco Primeiro Passo, o
Duo Primeiro Passo (projeto que leva a dança do samba como atividade motivacional
nas empresas), O Grupo Musical Jaqueira (grupo composto por passistas músicos),
A Apoteose dos Grandes Passistas (exposição e desfile comemorativo que reúne em
torno de 1000 passistas oriundos das diversas escolas de samba do Rio de
Janeiro), Projeto Quem Samba Recicla (projeto que visa o reaproveitamento de
fantasias e alegorias do carnaval) e o livro Passo dos Sonhos (livro destinado
ao publico infantil que mostra o samba como agente transformador na vida das
comunidades). Este artigo pretende analisar as atuações do projeto dentro do
contexto específico do samba na comunidade local, tentando compreender as
estruturas nas quais o projeto existe, avaliar a efetiva atuação política, de
forma ativa ou passiva, desse grupo em consonância com seus valores. Assim como
verificar os resultados obtidos após mais de uma década de atuação
sociocultural. Sendo o ensino sistematizado da dança do samba o objetivo primaz
do ICCPP e seus idealizadores coordenadores da ala de passistas do Grêmio
Recreativo Escola de Samba Portela, verifica-se uma forte ligação do projeto
tanto com a escola de samba como com o bairro de Madureira, Os passistas, na
estrutura das escolas de samba, são os componentes que dominam as técnicas da
dança do samba, os que “sambam no pé” e ocupam um lugar central nas questões
que serão problematizadas neste artigo por formularem identidades positivas de
si mesmos ao se apropriarem de um estilo
e de uma postura típica que os torna destaques no universo do samba e da
cultura urbana.
Palavras chave: cultura - samba - cidadania
INSTITUTO
DE CULTURA E CIDADANIA PRIMEIRO PASSO: DE MOVIMENTO CULTURAL A MOVIMENTO
SOCIAL.
Para construir
uma verdadeira comunidade, não ignoremos os pequenos gestos. A globalização
negativa não considera hábitos e necessidades locais. Abraça poderes como as
finanças e o capital. Há um grande número de mulheres e homens corajosos que
podem mudar a história. Ajudemo-los a bater as asas.
Zigmund Bauman
Como parte integrante dos estudos
em desenvolvimento sobre os passistas do Grêmio Recreativo Escola de Samba
Portela, tema de minha dissertação, chamou-me atenção um projeto social denominado
Instituto de Cultura e Cidadania Primeiro Passo (ICCPP), cuja principal
proposta é dinamizar e valorizar a cultura local do bairro de Madureira - predominantemente
ligada ao samba – através de oficinas de dança, canto, percussão e teatro, mantendo
algumas tradições do samba ao mesmo tempo em que leva em conta o dinamismo renovador
das práticas culturais.
Neste
grupo de trabalho que reuniu estudos sobre os movimentos sociais que eclodiram em várias partes do Brasil nos meses
de junho e julho de 2013, cuja principal proposta é discutir
criticamente as diversas categorias reivindicatórias que emergiram a partir de
um protesto inicial que, a princípio, visava apenas derrubar um aumento de
vinte centavos nas passagens de ônibus, escolhemos trazer à luz o ICCPP,
projeto sócio cultural ligado ao Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela por
considerarmos importante o papel que vem
desempenhando junto à comunidade de Madureira e seus arredores, atuando como
agente fortalecedor das construções de identidades sociais de forma
positiva.
O que começou com uma luta pela revogação do aumento das passagens de
ônibus se transformou numa revolta nacional que ganhou destaque na agenda
pública, ampliando-se para diversas outras pautas que envolveram reivindicações
por melhores condições de trabalho, saúde e educação além de medidas mais
eficazes contra a corrupção.
Após um ápice de passeatas semanais
reunindo milhões de pessoas em todas as grandes capitais, o movimento permanece
em curso no Rio de Janeiro com a greve dos professores, somado a atuações constantes de grupo anarquista
denominado Blak Blocs que atuam politicamente depredando instituições financeiras
e prédios públicos. A maior mobilização política no Brasil desde 1992 já entrou
prá história, com um providencial despertar depois de anos de apatia.
Tal como no Egito ,
as redes sociais tiveram papel determinante na organização das manifestações e
seu alcance a todas as regiões do país, se contrapondo, inicialmente, aos meios
de comunicação institucionalizados, que consideravam os manifestantes
“vândalos” e “desordeiros”. A criação da
Mídia Ninja (Narrativas independentes, jornalismo e ação) conhecida pela sua
atuação política alternativa à imprensa tradicional, com transmissões em tempo
real, usando celulares e um carrinho de supermercado como unidade móvel
estrutural foi essencial para mostrar a boa parte da população através das
redes sociais, especialmente o facebook, os conflitos, verdades e mentiras
sobre o movimento.
Uma das principais discussões girava em torno
do que motivou tamanha revolta e trouxe a população prá ruas. Representantes do
Movimento Passe Livre (MPL), organização que deu o “pontapé” inicial no ciclo
de passeatas acreditam que o êxito do movimento não surgiu de uma hora prá
outra, mas foi fruto de mais de oito anos de luta e trabalho por uma melhor
mobilidade urbana e pela tarifa zero nos transportes públicos. Pedro Stédile,
do Movimento dos Sem Terra (MST), apostam que o povo chegou no limite de suportabilidade principalmente pelo
que vem acontecendo com os espaços públicos urbanos por conta da especulação
imobiliária nas cidades, na carona dos
jogos esportivos internacionais que o Brasil sediará: cercas vivas para
encobertar favelas, medidas de retirada compulsória das ruas de viciados em
drogas, ações “assistencialistas” de envio de moradores da rua para abrigos,
desapropriação de imóveis particulares, processos de gentrification , visando higienizar a cidade, criando a
sensação de um local limpo e seguro, aumento
da violência policial, entre outras ações de cunho repressivo. Há até quem ache que o sucesso das
manifestações é por conta de “excesso de democracia”. Embora diferentes e até
divergentes, provavelmente todos esses motivos se somam e explicam uma explosão
democrática tão salutar para o Brasil.
Traço bem marcante do movimento foi a
pregação antipartidária. O discurso antipartido incitou a população a expressar
em voz alta toda sua indignação contra a corrupção que assola a política no
Brasil. Mais que indignação, o que se percebe na população é decepção. Em 2002
o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) Luiz Inácio Lula da Silva se
elegeu com mais de 50 milhões de votos, tornando-se o segundo candidato mais
votado no mundo. Após uma reeleição e a vitória de sua sucessora Dilma Roussef,
o que restou do PT é uma imagem completamente associada a escândalos de
corrupção.
Giddens ao falar da “democratização
da democracia”, afirma que novas formas de democracia que têm se disseminado
por todo o mundo, embora a maioria das pessoas declarem não ter interesse em
política parlamentar, especialmente entre as gerações mais jovens. A grande
revolução das comunicações contribui decisivamente para a formação de cidadãos
bem mais coinscientes de valores e possibilidades. Parece paradoxal mas o que se vê é um aumento da participação
política, ao mesmo tempo em que cresce o descrédito pelos agentes políticos
partidários. As articulações de grupos com interesses específicos seria na
opinião do autor, um aprofundamento da democracia, aumentando a articulação
social de diversas formas. Procedimentos democráticos alternativos parecem mais
interessantes para melhor atender as demandas cotidianas dos cidadãos e para
isso é necessário uma “vigorosa cultura cívica” (GIDDENS, 2003).
Em meio a revoltas, passeatas e
discursos “despolitizados” escolhemos conhecer melhor o Instituto de Cultura e
Cidadania Primeiro Passo, um projeto social fundado por passistas do G.R.E.S.
Portela, cuja proposta é, pela via da cultura, contribuir na construção de
identidades, promoção de justiça social e incentivo às práticas de cidadania
através da dança do samba.
Construindo
identidades
O ICCPP surgiu em 2001, idealizado por Valci Pelé e Nilce Fran,
coordenadores da ala de Passistas do GRES Portela. O casal, diversas vezes
premiado no carnaval carioca, fundaram o Instituto motivados pelo desejo de
preservar a memória de antigos passistas e da própria dança do samba. Com o
passar do tempo, o próprio projeto foi revelando seu caráter político social.
Valci Santos de Lima ou Valci Pelé, 41 anos, está na agremiação desde
1997. Nascido e criado na zona norte do
Rio de Janeiro, aos 15 já sambava; foi introduzido no “mundo do samba” por Nega Pelé, prestigiosa passista da época,
sua inspiradora na arte de sambar juntamente com Claudionor Marcelino dos
Santos, outro “bamba” da
época. Nilce Francisca da Silva Chaves, 41 anos, nascida e criada em Oswaldo
Cruz, oriunda de uma família de sambistas, desde criança já desfilava pela
Portela.
Na organização das escolas de samba
vê-se claramente o passado, representado pelas Velhas Guardas com seus idosos
fundadores; o presente, com jovens adultos em diversos segmentos, e o
futuro, representado por crianças que compõe as alas e escolas de samba mirins.
Todos atuam ao mesmo tempo numa trama de atividades durante todo o ano que
culmina no desfile de carnaval.
A memória social é algo estimulado nas escolas de samba pelo sua
capacidade de perpetuar saberes tradicionais populares. A
memória tem um caráter social, tudo o que nos lembramos do passado faz parte de
construções coletivas do presente. Quando
se fala em construção de identidades a partir de ações coletivas de cunho
sociocultural, cumpre ressaltar que o alcance das atuações envolve a todos os
atores sociais, inclusive os que lideram tais movimentos (DOS SANTOS, 1998), conforme verificamos
na fala de Valci Pelé:
Na
verdade, os maiores motivadores foram os grandes artistas da dança do samba do
passado como: Claudionor Marcelino dos Santos, Tijolo, Nega Pelé, que me
motivaram a lutar pela causa.
Quando tive a
ideia do Projeto estava num momento muito difícil, espiritualmente falando,
estava vivendo uma transição espiritual, cheguei a ter Síndrome de Pânico. Um
dia acordei e o projeto já estava pronto na minha cabeça. A data da fundação
foi dia 22 de agosto, Dia do Folclore, e eu nem sabia que era esse dia. Foi uma
coisa divina! Fui como Noé fazendo a arca em obediência a Deus. Daí em diante
tudo mudou na minha vida!
O ICCPP recebe crianças e adolescentes entre 06 e 18 anos, a maioria
moradores de Madureira e bairros circunvizinhos, pertencentes às classes baixa
e média baixa. É comum jovens que moram em regiões mais pobres da cidade serem
associados a fenômenos de delinquência e toxico-dependência, o que reveste de
importância iniciativas desta natureza.
O ICCPP ou Escolinha de Formação de Sambistas, não possui um espaço
garantido nem verba permanente para remuneração dos colaboradores, já que as
aulas são gratuitas e não há um patrocínio com que se possa contar. A equipe é formada por 6 pessoas, entre instrutores, auxiliares,
técnicos em informática e secretária. Já
esteve instalada em diversos endereços: no Brasil Novo Tênis Clube, no SESC
Madureira e atualmente no Parque Madureira .
Apesar de já existir há mais de uma década e ser uma referência no
ensino da dança do samba no Rio de janeiro, vive constantemente sob a ameaçada
de fechamento. O projeto não está diretamente ligado à Portela ou a qualquer
outra Escola de Samba, contudo, a maioria dos alunos anseia tornar-se passista
da escola “azul e branco” de Madureira, mas tal conquista não os afasta em
definitivo do Instituto; alguns continuam frequentando as aulas a fim de se
aperfeiçoarem ou apenas para manterem os vínculos com amigos e professores. Observa-se uma forte ligação ao território, um
sentimento orgulhoso de pertença pelos que vivem em Madureira e partilham, em
regra, o mesmo modo de vida. Atualmente há aproximadamente 200 jovens, ao todo,
envolvidos e beneficiados pelas atividades do Instituto.
Nas ciências sociais a construção de identidades era fundamentada na
noção de classe social, porém nas últimas décadas passou a ser analisada em torno
da territorialidade e de convergências culturais. Guimarães propõe uma análise
de sustentabilidade a partir de vários enfoques entre eles o cultural, que
prioriza a diversidade das culturas; o social que busca melhor qualidade de
vida e o político, que promove a construção da cidadania através do
fortalecimento das forças sociais.
Nesse sentido, o ICCPP é um espaço de sociabilidades relacionado ao
universo simbólico do samba. A valorização desses símbolos compartilhada pelo
grupo promove laços afetivos comunitários que têm o papel de comunicar e unir.
Segundo nos informou Mara Gonçalves, secretária do Instituto, as
principais razões apontadas pelos
responsáveis para buscarem o Instituto são: amor ao samba, desejo de socializar
os filhos, ajudá-los a superar a timidez através de atividades artísticas e
ocupar o tempo ocioso com atividades construtivas.
Para os fundadores do Instituto o samba deve ser ensinado como as outras
danças (clássicas ou contemporâneas), ou seja, pedagogizada, com método,
técnica e didática de ensino. Acompanhei algumas aulas de samba no Instituto e
observei que os alunos usam uniformes sem muita rigidez (roupa de malha e
sapatilhas), fazem um breve alongamento antes de iniciarem a repetição de cada
parte dos passos. Curiosamente, quando fragmentados, nem de longe parecem
passos de samba. Os pais assistem de longe, animados e atentos. Nesta fase da
aula a preocupação é com a técnica,
nenhum movimento “errado” passa desapercebido, algumas palavras são
exaustivamente repetidas, como “postura” e “elegância”, entretanto, a resposta
dançada de um indivíduo a um estimulo musical não se esgota numa relação
técnica ou estética, uma vez que pode ser também um meio de comunicação com o
grupo, uma afirmação de identidade social (SODRÉ, 2007).
A mãe de uma aluna relatou que matriculou a filha de 09 anos, primeiramente
para satisfazer um desejo por ela não realizado de ser passista da Portela.
Acredita que a filha possa vir a ser uma “passista show”, viajando com a
Portela por vários lugares, inclusive fora do Brasil. Diz que além de aperfeiçoar
o samba, a filha melhorou o rendimento escolar
e a saúde, pois conseguiu emagrecer,
porque antes era uma criança bem acima do peso. Disse que hoje a filha se sente
“importante”, é o centro das atenções na escola, admirada pelos colegas e
professores. Acha que vai frequentar o Instituto enquanto ele existir; pretende
cursar a faculdade de Educação Física e ser uma dançarina famosa. Já se pensa
em oferecer aos responsáveis pelos alunos aulas de dança de salão enquanto
esperam por eles, integrando-os de forma afetiva às atividades do Instituto.
Valci ressalta que, diferentemente da maioria dos projetos sociais que
envolvem crianças e adolescentes, estar matriculado na escola não é condição
para ser incluído, mas um objetivo a ser alcançado. A principal proposta é o
ensino sistematizado da dança do samba, mas atualmente há diversas outras
atividades ramificadas, revelando o caráter multiplicador das ações sociais.
O projeto inicialmente voltado para o ensino da dança do samba,
expandiu-se e ramificou-se para outras atividades, como a Cia do Samba, companhia
teatral composta por adolescentes oriundos das aulas de samba. Já montaram o
primeiro espetáculo apresentado no Teatro do SESC Madureira e em algumas
escolas públicas municipais; o Seminário
Arte do Samba, evento anual como parte das comemorações do Dia do Passista,
com a participação de vários nomes importantes da dança do Samba no Rio de
Janeiro, como por exemplo, Carlinhos de Jesus, Dudu Nobre e Diogo Nogueira, padrinhos
do projeto; Bloco Carnavalesco Primeiro
Passo desfila no carnaval, pelas ruas de Madureira e conta com componentes
do próprio projeto, familiares, componentes da Portela e da Filhos da Águia; Duo Primeiro Passo, workshop de dança
do samba oferecido como atividade, motivacional, recreacional e esportiva em empresas do Rio de Janeiro e São
Paulo; Grupo Jaqueira, grupo de samba composto por passistas-músicos que
se apresentam no circuito de samba carioca; Apoteose dos Grandes Passistas, desfile anual comemorativo que reúne passistas de todas as escolas de
samba, do grupo especial e de acesso,
realizado no Sambódromo no dia 19 de janeiro; Quem samba recicla, projeto que envolve oficina de reciclagem de
materiais usados na confecção de fantasias e alegorias do carnaval,
instalada no barracão da Portela
localizado na Cidade do Samba e por fim, o livro Passo dos Sonhos, livro didático infantil, para ser utilizado nas aulas de educação
física, cujos principais personagens são
duas crianças inspiradas no casal idealizador do projeto, que através do samba
vivem experiências positivas em suas vidas.
Território Samba: sentido de ocupação e
resistência.
No
ICCPP a maioria dos alunos se diz portelense “com muito orgulho”, e os que não
o são demonstram certo constrangimento, como se estivessem deslocados em
relação aos idealizadores do projeto, que são portelenses, e ao bairro cuja
escola tem grande representatividade. Devemos entender Madureira como um lugar com
determinada demarcação física, mas também simbólica, como a “capital do samba” ,
cujos usos o qualificam e lhe atribuem sentidos (LEITE, 2002).
O
histórico do samba é essencialmente um histórico de resistência. Seu matiz
histórico sempre atrelado à libertação dos escravos, à discriminação racial, à
segregação social, ao histórico de perseguição e proibição, identifica uma
necessidade constante de privilegiar territórios restritos – terreiros, antros,
morros, bares, favelas – nos quais se tornasse possível a sua prática. A esses
espaços de execução do samba chamaremos de “território-samba”.
A
questão "identidade + território" no contexto do samba apresentam
suas identidades culturais, sobretudo por meio de um enraizamento
sociocultural, ou seja, sua dinâmica social, histórica e artística está
diretamente ligada à geografia a que pertencem (FERNANDES, 2001). Um bom
exemplo são os passistas. Passistas são solistas da dança do samba,
responsáveis pela exibição do “samba no pé”, via de regra representam
determinada escola de samba, ou seja, um ente pessoal que faz menção a uma
entidade social, e apresentará alguns elementos típicos, em sua dança e em sua
indumentária, que remeterão a um legado cultural específico relacionado ao
lugar onde existe a escola de samba. As escolas de samba imprimem na dança de
seus passistas, algumas características que lhes são próprias, e que podem distingui-las,
inclusive, umas das outras. No caso do ICCPP, princípios e fundamentos da dança
do samba são trabalhados com uma proposta desterritorializada do
conhecimento do samba: não é um "passista de Portela" ou um
"passista de Madureira" que efetivamente o Projeto desenvolverá, mas
um dançarino que domine e execute os movimentos da dança do
samba. Considerando-se, porém, que toda atividade pedagógica é
permeada de enlevo pessoal, fazendo com que o subjetivo de quem leciona acabe
interagindo com o conteúdo daquilo que é ensinado, tornar-se-ia inevitável que
um ou outro elemento característico do samba local - no exemplo do ICCPP, o
samba "de Portela", a "casa" dos
professores Nilce e Valci, ou o samba "de Madureira" – venha
a alcançar, por abrangência, o samba característico
de outras escolas da região, como o Império Serrano, que carrega em sua
história marcas indeléveis de suas tradições cultivadas no Morro da Serrinha.
Os versos do compositor Nélson Sargento retratam a
dura luta dos sambistas para a preservação de seus valores intrínsecos: Samba/Agoniza, mas não
morre/Alguém sempre te socorre/Antes do suspiro
derradeiro/Samba/negro forte destemido/Foi duramente
perseguido/Nas esquinas, nos botequins, nos terreiros/Samba/Inocente pé no
chão/A fidalguia do salão/Te abraçou, te envolveu/Mudaram toda sua
estrutura/Te impuseram outra cultura/E você nem percebeu.
Qualquer
estudo mais aprofundado sobre o tema evidenciará que, a exemplo da tradição
africana (ou mesmo por estar diretamente relacionada a ela em sua essência)
existe um esforço de perpetuação cultural no “mundo do samba”, uma tradição de
reprodução sistemática dos padrões e hábitos culturais, sejam eles ligados ao
comportamento, culinária, religião, relações pessoais ou mesmo na arte. A
exaltação e a preservação das chamadas “velhas-guardas” nada mais é que a
representação simbólica da manutenção de todos os preceitos e fundamentos
estabelecidos historicamente no passado para sua perpetuação e sustentação no
futuro. Essa herança cultural atávica será determinante para o estabelecimento
de identidades das chamadas “comunidades” dentro das escolas de samba. A ancestralidade é fundamental no samba, razão
pela qual se usam termos como “bambas” (espécie de ícone cultural, fundador ou
elemento difusor da escola, reverenciado como um sacerdote por conhecer os
rituais de iniciação do samba), expressões tais como “fulano pertence à nobreza
do samba” (quando tem parentesco com um bamba) ou “sambista de raiz” (termo
elogioso, que agrega valor, evidenciando uma linhagem de sambista que traz
referências claras e imediatas à mais profunda tradição cultural do samba).
No
mesmo campo de reflexão quanto à transmissão do saber está o sentido de
preservação do saber transmitido, sob um aspecto que privilegia sempre a
tradição em detrimento da inovação. É comum, no universo simbólico do samba, o
questionamento dos elementos inovadores como sendo “invasivos” ou
“descaracterizadores” da essência do saber transmitido. Em relação ao ICCPP,
ainda que discretas, há críticas em relação a forma metodológica e didática com que o samba lá é ensinado. Sambistas
veteranos defendem que o samba (não usam a expressão “dança do samba) é transmitido aos
mais novos pelo convívio no meio do samba, é improvisado e criativo; alguns
consideram o caráter inato do samba: “já
se nasce sabendo”, “o samba é de berço”, “o samba tá no sangue” “cada um tem o
seu”.
Sob
essa ótica, as escolas de samba se adequam ao raciocínio proposto por Giddens
(2001) acerca dos processos de choque presentes nas sociedades modernas quando
elas, de certa forma, “violam” princípios de seus núcleos mais tradicionais. Em
se tratando de um campo que valoriza a tradição, como ocorre com os sambistas,
o raciocínio do autor é de fácil associação a essa questão:
(...) nas sociedades tradicionais, o passado é venerado e os símbolos
são valorizados porque contêm e perpetuam a experiência de gerações. A tradição
é um meio de lidar com o tempo e o espaço, inserindo qualquer atividade ou
experiência particular na continuidade do passado, presente ou futuro, os
quais, por sua vez, são estruturados por práticas sociais recorrentes.
Giddens
fez uma interessante observação de como os processos de globalização
interferiam nas comunidades tradicionais, a exemplo do confronto gerado entre
um meio extremamente conservador e autorreferente como o samba e as propostas
estéticas e comerciais presentes na nova fase dos desfiles. De uma maneira,
geral, quase por consenso, os considerados “verdadeiros detentores” do
conhecimento intrínseco a uma escola de samba, enquanto instituição tradicional
são aqueles que possuem em sua trajetória um construto de pertencimento social
– em verdade, geográfico e, portanto, territorial – a essa escola. Os “de casa”
tendem a ser respeitados e valorizados, ao menos no discurso, devendo prevalecer
sobre o elemento estrangeiro ou “global”. Esse grupo constituído por elementos
de enraizamento histórico com a escola de samba é referido como sua
“comunidade”, constituindo significação específica para o caráter genérico
desse termo.
Também
se percebe, quando se fala de “mundo do samba”, que há um apreço às “comunidades”
de cada escola, em alusão a uma população, um “povo” que lhe é específica,
inerente, indissociável. Assim, tem a Portela a comunidade de Oswaldo Cruz e
Madureira, o Império Serrano a comunidade da Serrinha, a Beija-Flor a comunidade
de Nilópolis, e por aí vai. Embora inseridas em um contexto de pluralidade
geográfica, agregando torcedores, frequentadores e componentes de diversas
procedências, a raiz e a essência dessas escolas de samba, e de sua
representatividade, estão na comunidade local, que representa geograficamente o
território onde foi fundada a agremiação, seu berço natal. Tais sentimentos os
tornam fortes e identificados uns com os outros.
Zygmunt
Bauman, em sua obra Comunidade – A Busca por Segurança no Mundo Atual
discute o multiculturalismo para explicar o estabelecimento das comunidades sob
o conceito fractal de “minorias étnicas”. Para o autor, a designação “minoria
étnica” é uma imposição, um rótulo a qual as comunidades podem ou não,
futuramente, se identificar ou lutar por sua perpetuação. Ele cita Geoff Dench
para exemplificar o sistema de pertencimento dos grupos: “O pertencimento ao grupo é
designado pelas coletividades fortes sobre as mais fracas, sem se considerar a
base subjetiva das identidades alocadas”.
Bauman
desenvolve essa questão, sustentando que, sob o rótulo de “minorias étnicas”,
há diferentes identidades sociais; entretanto essas diferenças raramente são
explícitas, pois não derivam de atributos, mas do contexto social em que estão
forçosamente inseridas pela “sociedade maior”.
E aprofunda sua discussão estudando a questão da formação do Estado,
para justificar que essas minorias representam tudo aquilo que não é
pertencente ao modelo homogêneo e unificado da Nação, constituindo um modelo
cultural específico, datado, igual.
As
“comunidades” ligadas às escolas de samba têm um pertencimento marginal, ligado
a populações carentes, a regiões do subúrbio menos favorecidas econômica e
culturalmente dentro do ambiente urbano a que pertencem. O jornalista Jofre
Rodrigues chegou a afirmar, no ano de 1932, que “Mangueira não ficava na
África, mas no Rio de Janeiro”. Sua frase-protesto referia-se à falta de
conexão entre o morro e o asfalto, a cidade e a favela, o que levava as pessoas
a terem uma referência alienada da escola de samba de Cartola.
Nélson da Nóbrega Fernandes destaca duas interpretações possíveis para essa
frase de Jofre Rodrigues: a denúncia de uma alienação e de uma segregação da
cidade imposta ao morro e a referência clara de que o samba de Mangueira não é
africano (oriundo de outro continente), mas essencialmente carioca e, assim,
brasileiro (FERNANDES, 2001).
É
antigo, portanto, o datado de alienação das comunidades do samba. Os
integrantes dessas comunidades parecem curioso objeto de estudo, na época do
carnaval, para a mídia em geral, “interessada” em promover, para melhor
rentabilidade do espetáculo dos desfiles, toda aquela gama de personagens pobres,
favelados e “exóticos”, constituídas, em
sua maior parte, por pessoas de pouca instrução e negras, oriundas de um
ambiente que, a bem da verdade, parece uma “tribo” para as elites que
“consomem” a festa da Sapucaí. Sob essa perspectiva, pode-se dizer que tais
comunidades se adéquam a esse conceito de “minorias étnicas”.
Há
como se pode perceber um hiato conceitual entre a significação das escolas de
samba para suas comunidades dentro do que chamamos neste artigo de
“território-samba” e sua significação numa leitura midiática/elitizada de
grupos externos. Hiato que pode ser compreendido como o conceito de
“hibridismo” defendido nas reflexões do filósofo e antropólogo Néstor García
Canclini acerca do fenômeno da hibridação cultural, procurando compreender o
intenso diálogo entre a cultura erudita, a cultura popular e a cultura de
massas, travado nos países latino-americanos. Para Canclini, a análise dessas
combinações compreende “(...) não só as combinações de elementos étnicos ou
religiosos, mas também a de produtos de tecnologia avançadas e processos
sociais modernos ou pós-modernos”, sobretudo
por apontar, em suas observações, a relevância dos processos tecnológicos e
midiáticos na abordagem dessa fusão cultural, a abordagem do autor favorece o
entendimento do interesse recente em novos modelos comerciais da cultura das
escolas de samba - adaptada , sobretudo,
às transmissões pela televisão - por
grupos exógenos. A origem rudimentar e simplória da escola de samba, num
sentido de representação cultural do meio urbano de ambiente territorial
restrito e em classes sociais específicas, torna-se, por força da midiatização,
refletida para outras classes que, então, ensejam uma integração e uma
participação (CANCLINI, 2006).
Por
outro lado, a escola de samba na contemporaneidade, devidamente integrada e não
mais “perseguida” nem expurgada do status
quo e da inteligentsia pelos
meios sociopolíticos do passado, propõe-se a estender seu conhecimento,
promovendo a interação cultural para além de seus muros. Dessa forma, promove
uma interação com elementos alheios, embora territorialmente próximos, à sua
composição criativa.
Entende-se,
porém, que a atuação da escola de samba na dinâmica social independe
necessariamente de projetos políticos ou socioeducativos promovidos por agentes
de governo e seus correlatos. Não obstante a real valia desses projetos
desenvolvidos por governos e empresas privadas para concentrar recursos na
extensão dos projetos artístico-culturais das agremiações, a escola de samba já
é – por essência - um agente interativo transformador de seu entorno social.
Promovendo
justiça social e práticas cidadãs
Neste universo de territorialidades marcadas pela cultura do samba está
o ICCPP com seu principal objetivo: colaborar na formação de cidadãos sambistas.
A expressão “dança do samba” surgiu através
do jornalista José Carlos Rego, em seu livro Dança do Samba (REGO, 2006).
Embora seja mesmo uma dança, nunca foi assim tratada; o movimento corporal no
ritmo do samba sempre foi apenas “samba”, talvez porque o “samba” seja
realmente mais que uma dança em suas múltiplas representações.
Nilce Fran explica o porquê da valorização do ensino do samba com as
técnicas aplicadas a outras danças:
O objetivo do Projeto é também
prepará-los para um mercado de trabalho. Toda dança tem suas técnicas, por que
o samba não teria? O samba é uma dança. A pessoa recebe um convite prá
participar de um show, chega lá tem um produtor e ela não sabe marcação de
tempo, espaço, fica perdida...
Cavalcanti (2006) enfatiza que “embora a escola de samba ocupe um lugar
decisivo na definição do sambista, a noção de sambista não dá conta da escola
como um todo” . As atividades desenvolvidas nas escolas de samba pelos
sambistas durante todo o ano visam bem mais que o desfile de carnaval.
Se alguns se preocupam que a técnica como parte do ensino da dança do
samba pode dele retirar o improviso e criatividade, outros acreditam que ela
pode reforçar redes de relação e pode levar ao congraçamento orgânico entre os
alunos.
Se uma ala de passistas atualmente conta com aproximadamente 100
componentes, talvez um quinto deles passe a compor o grupo de “Passistas Show”
que passarão a atuar profissionalmente, realizando shows em diversas ocasiões e
lugares dentro e fora do Brasil. Alguns participam de pequenas campanhas
publicitárias e a maioria confessa, timidamente, o intimo desejo de viver da
dança, embora reconheçam o caráter irrisório das remunerações e a falta de
organização no que se refere a acordos e contratos de trabalho, na maioria dos
casos, inexistentes.
Outro caminho que tem sido vislumbrado por alguns alunos é o desejo de
se tornarem direta ou indiretamente, profissionais da dança através do samba, e
citam como exemplos, além dos próprios instrutores, Fábio Batista, ex-passista
do GRES Salgueiro, coreógrafo da Cia de Dança Clanm e professor na Escola de
Dança Centro Cultural Carioca; Neto Guilherme
Santos, ex-passista do GRES Portela, professor de Educação Física e escritor; Carlinhos Salgueiro, ex-passista do GRES
Salgueiro e coreógrafo contratado pela agremiação; Janaína Azevedo, passista-show
da Portela, atriz e dançarina; Rafaela Bastos, passista, musa da mangueira,
apresentadora geógrafa e blogueira
colaboradora da coluna de Anselmo Góis sobre assuntos de carnaval e
territorialidades, entre outros.
Em 2007, através da Lei 4.462 (Lei
Valci Pelé) foi instituído o dia 19 de janeiro como o Dia do Passista no
calendário municipal. No período letivo de 2013, a dança do samba integrou as
atividades do projeto Mais Escola, da rede pública, levando aulas de samba aos
alunos do ensino fundamental como atividade extra-curricular, através da equipe
do ICCPP.
Conclusão
O movimento social define-se por si
mesmo, por aquilo que ele é e pelo que representa. Antes ligados à luta de
classes, os novos movimentos se propõem a trabalhar questões que antes eram
apenas da esfera privada: questões de gênero e de orientação sexual, questões
étnicas, territoriais e culturais. Exprimem uma nova cultura política
caracterizada por valores como viver melhor, qualidade de vida, autoestima,
direito a diferença, muitas vezes não se congregam em torno de um objetivo
comum de mudança social abrangente. Essas novas perspectivas nos permite ver o samba com todas as suas
representações e simbolismos, como um poderoso agente de melhoria de vida para
a população dos bairros onde as escolas de samba estão firmadas.
Acreditamos que o fortalecimento das
culturas locais pode minimizar a injustiça social através de mudanças de
reavaliação de identidades desprezadas, reconhecimento e valorização da
diversidade de culturas ou mais globalmente, alteração substancial dos modelos
sociais de representação, o que modificaria a percepção que cada um tem de si
mesmo e do grupo ao qual pertence.
O
Instituto de Cultura e Cidadania Primeiro Passo tem sido um importante agente na
promoção de novas perspectivas culturais e profissionais, levando diversas
famílias a entenderem o samba como tradição a ser preservada e ao mesmo tempo
reinventada; criou perspectivas profissionais através da inclusão de jovens nas
alas de passistas de Escolas de Samba; estimulou em alguns o desejo de tornarem-se professores
de Educação Física; aproximou as famílias que passaram a ver os filhos como
artistas em potencial, reforçou as sociabilidades dos jovens através das
atividades do projeto e principalmente, reforçou os sentimentos de pertença e
afetividade na comunidade local.
O
GRES Portela existe há 90 anos, sua longevidade se deve, principalmente, às
representações e símbolos interativos que envolvem a própria agremiação, os
portelenses e o bairro de Madureira. O ICCPP trabalha com um duplo viés de
inclusão social: o resgate daqueles a quem a gestão do projeto considera
"em situação de vulnerabilidade socioeconômica" e um esforço
pragmático em função de postergar a arte dos sambistas em geral e especialmente
a dos passistas, mediante a sistematização dos passos de dança, a serem
catalogados e tecnicamente elaborados/construídos por seus executores.
BIBLIOGRAFIA
BAUMAN, Zigmund. Comunidade: a busca por segurança
no mundo atual. Rio de Janeiro, Zahar, 2003.
CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro.
Carnaval carioca: dos bastidores ao desfile. Rio de Janeiro, FUNART/UFRJ, 2006.
DOS SANTOS, Myrian Sepúlveda. Sobre a autonomia das
novas identidades coletivas. Revista
Brasileira de Ciências Sociais, vol. 13, nº 38, São Paulo, 1998.
FRASER, Nancy. Igualdade, identidades e justiça
Social. Le Mond Diplomatique Brasil,
nº 59, São Paulo, 2012.
GIDDENS, Anthony. O mundo em descontrole: o que a
globalização está fazendo de nós. Rio de Janeiro, São Paulo, Record, 2003.
_________ As consequências da modernidade, UNESP,
São Paulo, 2001.
GONÇALVES, Renata de Sá. A dança Nobre do Carnaval.
Rio de Janeiro, Aeroplano, 2010.
LEITE, Rogério Proença. Contra-usos e espaços
públicos: notas sobre a construção social dos lugares na Manguetown. Revista
Brasileira de Ciências Sociais – Vol. 17, nº 49, 2002.
REGO, José Carlos. Dança do Samba,
exercício do prazer. Rio de Janeiro, Aldeia, 2006.
SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo.
Rio de Janeiro, Ed. Mauad, 2007.
Parque urbano municipal, com mais de 90 mil
metros quadrados, localizado em Madureira, destinado a lazer, atividades
culturais e esportivas.