sábado, 22 de janeiro de 2011

RENATO SORRISO E O MARKETING PESSOAL

O ensaio na Grande Rio ontem estava... redondo. Calorão do jeito que a gente gosta, quadra "cheia agradável" - sim , pq tem várias categorias de "cheio" - tem o cheio insuportável (Mangueira, Salgueiro e Bola Preta) e cheio agradável (Portela e Mão de Lata), a bateria 1000!, em fim, tudo bacana.

Lá estava Renato Sorriso, aquele gari que se tornou famoso por dar um show de "samba no pé" na avenida ao final de cada desfile. Em 2010 foi até homenageado no samba enredo da Grande Rio. O cara é um grande passista: samba bonito, floreado de improvisos, ágil, simpático e ... muito popular.
Pensava sobre a questão da popularidade e o marketing pessoal. Hoje o pensamento predominante é de que toda ação deve ser um investimento, que tudo deve ter um resultado proveitoso materialmente, até o que se faz por puro prazer. Mas será que isso corre em todos os meios, em todos os grupos?

Alcione, a Marrom, entre os anos 80/90 era facilmente encontrada em Mangueira a qualquer hora do dia, principalmente nas segundas-feiras, quando aconteciam os ensaios da Mangueira do Amanhã. Alcione é uma diva do samba, cantar é o seu ofício e ganha pão. Depende da venda de CDS e da presença das pessoas em seu shows. Dizem que coincidentemente, nesta época, verificou-se um certo declínio em sua carreira e a Marrom foi aconselhada a afastar-se um pouco daquelas atividades e a diminuir sua exposição.

Os artista são cercados de um certo mistério, quando raramente são vistos, despertam a curiosidade das pessoas que, por desejarem vê-los, pagam ingressos para suas apresentações. Assim, se público e artista estão sempre em contato nas atividades diárias, perde-se um pouco do glamour.

Meu amigo Alexandre Handerson, apresentador do Globo Ciência, há muito identificou esse fenômeno, ainda quando frequentávamos Portela: queremos o que não temos. Dizia ele que "figurinha fácil" não se estabelece. Ele estava certo: matou a cobra e mostrou o pau. Tá mandando super bem no seu programa, com seu valor finalmente reconhecido.

Dependendo do que se pretende, é necessário tal estratégia. Renato Sorriso virou uma "celebridade" do carnaval e se quisesse, poderia prolongar seus 15 min de fama, entretanto, prefere ficar no meio do povão à usufruir do conforto impessoal do camarotes. Chega desacompanhado, o que não é comum quando alguem se torna famoso, lidera as rodas de passistas no meio da quadra e só vai embora no "boa noite" do locutor. Depois é facilmente encontrado tomando a "saideira" do lado de fora.

Esse comportamento o tornou um "comum", mais um passista suado sambando no meio da quadra. Obviamente que estou numa abordagem sob a ótica dos que detêm o poder, porque, para os apaixonados pelo samba, um passista suado no meio da quadra tem muito valor.

Talvez ele não pretenda profissionalizar seu prazer. Já revelou-se, numa entrevista, orgulhoso de ser um destaque na sua profissão de gari.

O que faz muita gente boa embarcar nessa canoa furada é a inversão dos valores na qual vivemos atualmente, onde no samba, prestigiados são as celebridades e o sambista, esculachado.

Então, parabéns ao Renato Sorriso pela coragem de ser diferente.

domingo, 16 de janeiro de 2011

O SAMBA DO CRIOULO DOIDO

Gente, o que tem a ver SAMBA com TRÁFICO DE ÓRGÃOS?

Nada.

MULHERES, SAMBA E PROSTITUIÇÃO

Prometi que este ano daria um tempo de falar de carnaval. Não porque não goste, muito pelo contrário, mas olhei em volta e vi que outros apaixonados e doutores no assunto, mestres, bambas, sucumbiram.
O tema tornou-se obsoleto, a discussão, infrutífera. Já deu. Já foi.
Mas não resisti e hoje volto a falar sobre a condição das mulheres nas escolas de samba, mais especificamente, na ala de passistas.

Está prá ser lançado um documentário intitulado "Mulatas: um tufão nos quadris" direção de Walmor Pamplona e roteiro de Aydano Motta que entrevista 13 passistas de destaque no samba carioca. Em seus depoimentos todas falam de solidão e preconceitos, pois muitas vezes são confundidas com prostitutas.
Chegamos na questão central que me fez voltar a este assunto, perturbador e constrangedor: é uníssono que a dança do samba é sensual e erótica. A dança. Mas é arte. Assim como a dança do ventre, o tango, etc.
Eu, particularmente, não destacaria esta característica como principal, mas tudo bem. Pode se dançar individualmente ou aos pares, o que lhe dá um alcance teatral, onde o casal simula um "cortejo" através dos movimentos.
Mas se tudo é tão "artístico" o que estigmatiza tanto as passistas?

Estive na Grande Rio e presenciei uma "escolha de passistas".
Aproximadamente 10 jovens se apresentaram, num primeiro momento com "roupas" mínimas, tops e saias de babadinhos "dando pinta" de calcinha. Todas sambavam, a diferença era mais no tipo físico do que no samba em si, que tem se homogeinizado no que tange as apresentações. Praticamente não se vê criatividade nos passos, não há, principamente entre as mulheres, um estilo próprio.

Já houve, e nesse quesito não posso deixar de falar das "rodas de passistas" que se formavam na quadra da Portela. Quem viu, viu. Quem não viu...

Aí anunciaram que haveria uma segunda apresentação, agora de biquini. Biquini de passista é na verdade, uma fantasia, uma linda fantasia, com paetês, plunas, cabeça, tornozeleiras e braceletes, colares, etc. Mas eis que surgem as meninas, enfileiradas, com um biquini de lycra enfiado na bunda. Já era madrugada, a exibição era num palco onde fica a bateria, composta em sua maioria por homens. Pude ver uma bem novinha que colocava as mãos cruzadas prá trás, tentando tapar um pouco do tudo que ela mesma permitiu-se exibir.

Lembrei-me das escolhas de Rainha e Princesas de bateria de Mangueira antes da minha querida escola se rendar às celebridades: as passistas primeiro dançavam com uma roupa simples, podia ser short, bermuda, vestido, qualquer coisa. Depois, acreditem-, vinham com um vestido longo, de festa. Vinham lindas, elegantes, maquiadas, com os cabelos arrumados, umas pelas outras.
E sambavam, sambavam muito e bonito. Biquinis, só nos shows ou no desfile.

É complicado acusar a escola por tamanha exposição e desvalorização da mulher se a própria mulher não se insurge contra tal situação e ás vezes até gosta, compactuando, feliz da vida, com sua própria coisificação.
Paradoxalmente, praticamente todas as agremiações possuem suas escolas de samba mirim. Mas o que estão ensinando às meninas passistas sobre o papel da mulher na escola de samba?

Por que uma mulher precisa estar quase nua para mostrar que sabe sambar?
Desrespeito e banalização de uma manifestação tão bonita como o samba dançado, eu repudio.

Esta nostálgica senhora que vos escreve foi passista da Portela e da Mangueira nos anos 90.

TRÁFICO DE ÓRGÃOS: resquícios de uma guerra


O Le Mond deste mês traz uma matéria da maior importância no sentido de alertar a comunidade internacional sobre o tráfico de órgãos, crime bárbaro, oportunista e quase invisível para o Direito e para as autoridades.
A matéria escrita pelo jornalista francês Jean Arnault Déren, traz á luz o relatório apresentado recentemente no Conselho Europeu sobre a possibilidade dos prisioneiros do Exército de Libertação do Kosovo (UCK) terem sido vítimas de tráfico de órgãos.
Em novembro de 2010, o tema foi o objeto da minha pesquisa que resultou num trabalho intitulado Tráfico de Pessoas: aspectos normalísticos e finalísticos disponível no site da Universidade Cândido Mendes. Neste trabalho abordo, genericamente, as diversas finalidades do tráfico de pessoas, mas revelo aos leitores o desejo de num futuro breve, voltar mais especificamente ao tema tráfico de órgãos ou de partes do corpo.
O requinte da crueldade humana torna o tráfico de órgãos uma prática de "otimização" de uma prévia infelicidade alheia. Se o sujeito é pobre, vender um órgão é um excelente negócio. Se sofreu um acidente, por que não retirar o órgão (ainda que não autorizado) e vendê-lo a quem precisa e pode pagar? Ganha quem compra e ganha quem vende.
Na matéria do Le Mond, o autor do relatório, o Deputado suiço Dick Marty afirma que
centenas de prisioneiros capturados pelo UCK – principalmente sérvios do Kosovo e provavelmente romenos e albaneses acusados de “colaboração” – teriam sido deportados para a Albânia, em 1998 e 1999. Aprisionados em vários pequenos centros de detenção – entre eles a famosa “casa amarela” da pequena cidade de Rripë, perto de Burrel, visitada pelos inspetores do TPIY (Tribunal Penal Internacional da ex-Iugoslávia)–, alguns deles teriam alimentado o tráfico de órgãos. Os prisioneiros eram conduzidos para uma pequena clínica situada em Fushë Kruja, a 15 km do aeroporto internacional de Tirana, assim que alguns clientes demonstravam interesse em receber órgãos. Eles eram, então, abatidos com um tiro na cabeça antes que os órgãos, principalmente, os rins, fossem retirados.

Assim caminha a humanidade.