quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

ENSAIO DE ESCOLA DE SAMBA: JÁ BATEU SEU CARTÃO?

Não é a toa que sambistas como Paulinho da Viola, Nei Lopes e outros do mesmo naype se afastaram de suas escolas de samba. Institucionalizou e burocratizou demais. Escola de samba era espaço de lazer, congraçamento, e segundo Candeia, resistência. Mas esse aspecto político não era ditatorial, era conseqüência de suas próprias vivências e convivências. A escola de samba era (e ainda é de certa forma) lugar da alegria, de afetos, de parentescos, de família extensiva, de amizades, em fim, da vida publica do sambista. Mas... -, não vou me estender em explicações sobre isso, a escola de samba mudou, empresariou, espetacularizou, profissionalizou. O samba sambou com as Super Escolas de Samba S.A. como bem contou a São Clemente e o glorioso Império Serrano. Ano retrasado escrevi um post em que ironizava a organização da ala em que eu mesma fazia parte, tamanho o rigor e o desejo obcecado da coordenação em uniformizar o grupo (http://silviajus.blogspot.com.br/2013/02/a-mordaca-no-carnaval.html). Da roupa a maquiagem, passando pela voz e pelos movimentos, tudo deveria ser igual. Entendo que isso é resultado da busca da eficiência a todo custo, somada à máxima radical do: “ou pega ou larga”. Alguém acima do coordenador determina a diretriz não deixando espaço para nenhum tipo de análise crítica ou opinião. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Sambista ia ao ensaio por prazer, não por imposição. Eu arrumava confusão com meu pai, depois com marido, tudo pra estar na Portela toda quarta-feira e na Mangueira todo sábado. Se as coisas mudaram pra escola de samba, mudaram pras pessoas também: as pessoas têm muitos compromissos, trabalham longe de casa, o transporte piorou, se gasta em engarrafamentos o equivalente a uma jornada de trabalho, o que diminuiu muito nosso tempo disponível para as outras atividades igualmente importantes. Em que mundo vivem os coordenadores??? E serão mesmo necessários tantos ensaios??? Não sei. Essa semana Mestre Ciça numa entrevista, disse que prefere não esgotar seus ritmistas com tantos ensaios, especialmente os mais antigos. Tenho lá minhas dúvidas se o que se busca com tantos ensaios é a perfeição e se essa perfeição se coaduna com o espírito da escola de samba. A pressão, a imposição, as freqüentes ameaças aos componentes de serem expulsos da ala transforma a escola de samba num lugar de opressão e domínio, típicos do ambiente de trabalho. O componente se inscreve pleiteando a vaga, assina o contrato, paga sua contribuição sindical, chega no samba/ empresa, procura o coordenador/encarregado, dá a presença/bate cartão, se junta aos outros componentes/companheiros de jornada e vai ensaiar/trabalhar. O salário/fantasia é pago/dado pela escola para o dia do desfile. E essa idéia é propagada a disseminada entre todos, levando um componente a patrulhar a vida do outro, cobrando o cumprimento das obrigações assumidas com a escola de samba, sem perceber que com isso se torna um “careta X 9”, algo antes repudiado no mundo do samba e que deve fazer a malandragem do passado se revirar no túmulo! Assim como as cobranças divulgadas não visam atingir todos os componentes, apenas alguns; meu texto também não objetiva todas as coordenações, apenas algumas...rsrsrs Eu, por enquanto, sigo no rolo, mas consciente de que o samba é antes de tudo, LIBERDADE, ALEGRIA E PRAZER.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

DIVANDO NA PORTELA

Se Madureira é a capital do samba, a Portela é reduto de bambas. Além das lindas passistas coordenadas por Nilce Fran, a Portela mostra seu potencial de samba no pé com a ALA DAS DIVAS, constituída por 70 mulheres portelenses e muito glamorosas. O nome não é oficial, mas foi legitimado pelas componentes e pela coordenação da ala a cargo de Cris Esteves, chamada também de “Diva Mor”. A ala é exclusivamente feminina, e as principais características são a alegria, animação, samba no pé e claro, muito glamour. A ala surgiu a partir da extinção de uma outra – a NÓS PODEMOS – formada por deficientes fisicos e intelectuais, que eram conduzidos em cadeiras de rodas pelas atuais Divas. A diretoria decidiu a partir de 2014 adotar postura mais inclusiva, distribuindo esses componentes pelas diferentes alas da escola, que passaram a ser conduzidos pelos próprios familiares ou por si mesmo. A escola então reuniu as antigas condutoras numa nova ala que atrai a atenção de todos pela simpatia e samba no pé que exibem nos ensaios técnicos e no desfile. Com a reorganização da ala, algumas componentes saíram e outras chegaram, mas o espírito do grupo é o mesmo: tem que ser DIVA! São comumente confundidas com as passistas, o que é motivo de orgulho.
A criação de alas como a das DIVAS é extremamente benéfico para a manutenção do samba no pé da escola, que existe além da ala de passistas. Recentemente o Iphan verificou a carência de expressões genuínas do samba nos desfiles das escolas de samba. Num encontro no Centro Cultural Cartola realizado em outubro deste ano, a pesquisadora Nilcemar Nogueira apontou o excesso de alas coreografadas nos desfiles atuais como algo que pode levar a extinção, ao longo do tempo, do samba no pé nos desfiles das escolas de samba. A Mangueira, outra escola de grande tradição no samba, criou a ala SENTE O SAMBA, uma ala que, a despeito de não ser ala de passistas, exige de seus componentes o domínio da dança do samba e reuniu feras do ofício. Talvez a Ala das Divas seja uma das alas mais procuradas na Portela. Quem ta fora quer entrar, mas quem ta dentro não quer sair. A presença aos ensaios é bastante cobrada, mas a dedicação é recompensada com prestígio e fantasias dignas de DIVAS. Parabéns Portela, Parabéns Cris Esteves e Parabéns às Divas, lembrando que eu também sou uma delas!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A TRADIÇÃO DO “SAMBA NO PÉ” DA VERDE E ROSA FAZ NASCER A “SENTE O SAMBA”

O GRESEP de Mangueira tem uma peculiaridade: é uma escola que reivindica o título de ser a escola mais “tradicional” do carnaval carioca. Essa “tradição” é constituída reverenciando dois aspectos principais: a de ter protagonizado o início das escolas de samba, como pode ser verificado no próprio sítio eletrônico da agremiação (www.mangueira.com.br); e a de preservar em seu desfile a participação da “comunidade” mangueirense. Um dos elementos reclamados em Mangueira para compor a “tradição” por meio da comunidade mangueirense é o samba no pé, a habilidade corporal que só quem é do mundo samba sabe fazer (TOJI, 2006). A Mangueira é um manancial de sambistas que dominam o samba no pé, o que torna, por vezes, a ala de passistas insuficiente para acolher tantos talentos, por isso surgiu o projeto da ala SENTE O SAMBA cuja proposta é agrupar componentes que, a despeito de não estarem na ala de passistas, dominam a arte do samba no pé. No carnaval de 2014 a ala de passistas fragmentou-se dando origem à ala PRÁ SEMPRE PASSISTA, que desfilou com 20 casais. Não foi a primeira vez que isso aconteceu em Mangueira. No desfile do carnaval de 2000, adequando-se ao enredo “Dom Obá II, o Rei dos Esfarrapados, Príncipe do Povo” a Mangueira apresentou dois figurinos para ala de passistas: “O Luxo” e “O Lixo”. Motivo de orgulho para o mangueirense é o fato de que “a Mangueira não tem dono nem patrono” (TOJI, 2006). A mangueira pertence aos mangueirenses. O pertencimento fortalece, e o “saber” carnavalesco gera um grupo de expers em Mangueira que adquirem indispensabilidade face às principais realizações e características da agremiação (GOLDWASSER, 1975). É incontestável a qualidade e importância dos sambistas reunidos no novo grupo: Indio da Mangueira, Celynho Show, Fábio Fuly, Angele Miranda, Georgia Gomes, apenas para citar alguns. A ala atualmente tem aproximadamente 60 componentes desejosos de mostrarem na avenida a força do samba no pé de mangueira, o samba riscado, o samba rasgado, numa ala mais adulta e integrada às alas da comunidade, que agora passa a se chamar ala "SENTE O SAMBA". A ala “Sente o Samba” tem como objetivos: a) incrementar e reforçar o samba no pé, tradicional nos desfile da Mangueira; b) evitar a dispersão de componentes talentosos, antigos e importantes para a escola; c) colaborar com a Escola nos diferentes eventos, especialmente nos ensaios e feijoadas, animando e interagindo com o público, como já o fazem muitos de seus componentes. Proposta organizacional: Nome: Ala “SENTE O SAMBA” Coordenadora: Angele Miranda Número de Componentes: 30 homens e 30 mulheres