domingo, 24 de janeiro de 2010


10/01/2010

MOMENTO GRANDE RIO I

A Escola de Samba Grande Rio, tem protagonizado momentos interessantes na estória do samba.
Ainda não li as manchetes do jornal de hoje, mas poderia ser assim: “Sambistas enfrentam PMs em Duque de Caxias”. Ou então: “O samba prevaleceu”.
Ontem, componentes da Grande Rio, reunidos na principal Avenida de Duque de Caxias, foram impedidos de realizarem seu ensaio técnico por ordem do Prefeito Zito. Os principais setores da escola estavam lá: bateria, passistas, baianas, mestre-sala e porta bandeira, e o povão, é claro. Ânimos exaltados, os PMs resolvem levar alguns Diretores de Harmonia para a 59ª sob a alegação de desacato. Na hora de entrar na viatura, um dos diretores foi ferido na testa. O Presidente da Escola, interveio, manteve seu bom relacionamento com o Comando do 15º BPM, e prometeu dispersar ordeiramente os desfilantes, sem carro de som, mas pela via onde já estavam todos os componentes. O povo não aceitou, e a voz do povo .... Num espetáculo improvisado, seguiram cantando o samba enredo deste carnaval, que coincidentemente relembra momentos marcantes dos desfiles na Sapucaí, e o Mestre Ciça, como diria o puxador oficial da Escola, Wantuir, “deu um show na avenida”. Quando os PMs perceberam que o ensaio estava acontecendo, tentaram invadir com as viaturas, mas já era tarde, a escola havia tomado todo o viaduto do Centro de Caxias. Seriam insanos a ponto de atropelarem aproximadamente 2 mil pessoas???
O mais hilário: já na esquina da quadra, com todo aparato policial em volta, o povo cantava: EU, EU, EU, O ZITO SE ... ! U,U,U, O ZITO VAI TOMAR NO... ÍA,ÍA,ÍA, GRANDE RIO PAROU CAXIAS... AI, AI, AI, O ZITO NUNCA MAIS!

MOMENTO GRANDE RIO II

Esse episódio me fez lembrar um ensaio técnico na Portela, a quadra lotada, a Rua Clara Nunes intransitável. No ar, a batida dos tamborins da Tabajara do Samba ia buscar quem mora longe, um calor maravilhoso e a Lua exibindo-se lindamente na privilegiada quadra aberta da azul e branco. Lá pelas 2h da madrugada o puxador oficial da Grande Rio na época, Nêgo, subiu ao palanque e começou a cantar um dos mais belos sambas já apresentados pela Escola de Caxias. De repente faltou energia e a quadra iluminada apenas pelo clarão da Lua. A bateria se empolgou e o povo que lotava a quadra cantou apaixonada o samba: “O LUAR, O LUAR, Ô LUAR, VEM PRATEAR A NOSSA RUA, A SEMENTE DA FARTURA SEMEAR, VIRAR O MUNDO DE BUMBUM PRÁ LUA”. Foi emocionante: toda a quadra cantando... Essa é a força do samba.

LIÇOES POLÍTICAS NO SAMBA

O confronto entre sambistas e PMs visto ontem em Duque de Caxias, mostra algo de muito relevante: a força dos cidadãos unidos e a carência da liderança político-ideológica.
A manifestação do povo exigindo o direito de ensaiar foi clara, ou seja, o samba é verdadeiramente uma manifestação de cultura popular, embora as agremiações tenham sido tomadas, ou, em memória de Candeia, “usurpadas” pelos atuais dirigentes. O povo é o legítimo detentor da manifestação cultural. Obviamente, que por questões de segurança e de controle das massas, da mantença da ordem, as reuniões devem ser informadas previamente e acontecerão mediante autorização do Chefe do Governo.
Por outro lado, verifica-se que a inércia da qual todos reclamamos tem uma razão: não temos ninguém confiável que nos conduza a exigir direitos nossos igualmente importantes. O que se viu ontem era uma massa humana pronta a fazer o que o seu líder mandasse. Acho mesmo que se o Presidente da Escola de Samba ordenasse um enfrentamento entre os componentes e o PMS, teria ocorrido um incidente de grandes repercussões. Imaginemos, então, todo aquele povo cobrando dos políticos mais leitos em hospitais, vagas em escolas públicas, ensino de qualidade, asfalto, tratamento de rios, etc. Nesse período de chuvas, Duque de Caxias, apesar de seu aparente desenvolvimento, foi um dos Municípios que mais sofreu. Dezenas de pessoas mortas soterradas por deslizamentos de casas em lugares inóspitos. Infelizmente, não presenciei nenhuma manifestação da população, apenas choro e lamentação.
Oxalá o dia em que exigiremos mais que apenas o direito de sambar.

A PEDAGOGIA DO AMOR DO PROFESSOR NILSON FREITAS

Conheci o professor Nilson Freitas, autor do livro A PEDAGOGIA DO AMOR, num curso de complementação pedagógica ou docência do ensino superior na Universidade Candido Mendes. No inicio me pareceu um pouco estranho e até pouco simpático, mas ele é simplesmente ele mesmo, sem máscaras ou personagens, e no decorrer de 04 ou 05 meses descobri um cara incrível que aposta suas fichas no amor com que impregna seu trabalho e suas relações.
Sempre soube que o que mantém os grupos unidos nas Escolas de Samba é principalmente as relações afetivas criadas naquele ambiente. Durante todo o tempo em que fui passista nas minhas queridas Portela e Mangueira, estive mais próximas dos meus pares do que de minha própria família. Partilhávamos nossas vidas, nossos problemas, nossas disputas, brigávamos, fazíamos as pazes, chorávamos e ríamos juntos, nos falávamos quase todos os dias. A começar que quem vai ao samba vai pra se alegrar, pra cantar, dançar, criar, enfim, vai pra fazer ou ver arte. E isso já alegra o espírito. Então, os componentes quando chegam à Escola, se abraçam com tanto carinho, como se não se vissem há anos, mas estiveram juntos no último ensaio há dois ou três dias. Pude observar, ontem, na quadra da Grande Rio, um grupo de mestre-sala e porta-bandeiras mirins, adolescentes entre 12 e 14 anos, ao retornarem do ensaio triunfal em que a arte venceu a força, sambavam e se abraçavam emocionados. Comemoravam suas representatividades, suas identidades expressas naquela agremiação. Cada elemento do grupo que chegava era recebido com beijos e abraços calorosos pelos outros.
Este é o mistério que move o ser humano, tão bem desvendado pelo Professor Nilson Freitas: o amor.

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